quarta-feira, 4 de março de 2015

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


DIA INTERNACIONAL DA MULHER:
Uma homenagem ao dia 8 de março e a todos os outros dias

Por: Clarissa Fontoura[1]

Apesar do caráter festivo adquirido na atualidade, o Dia Internacional da Mulher tem em sua origem manifestações de operárias de uma fábrica têxtil nova-iorquina em busca de condições trabalhistas mais igualitárias entre homens e mulheres. Infelizmente, na atualidade, poucos conhecem a verdadeira origem dessa data e a sua relevância, em se tratando da luta das mulheres por igualdade de direitos, numa sociedade ainda marcada pelo machismo e conservadorismo.
 
Dentro dessa perspectiva, destaco outro acontecimento importante, gerador de mudanças profundas na sociedade: a Revolução Industrial, ponto de transformação em todas as esferas sociais, incluindo o trabalho e a família. A dinâmica trabalhista que ocorria de maneira artesanal deu lugar a outro tipo de dinâmica mais exigente e comercial, demandando um maior número de pessoas no mercado de trabalho e nas indústrias e, consequentemente, desenvolvendo novas relações de trabalho. Tais mudanças no âmbito da vida pública afetaram diretamente a vida privada, ocasionando uma reorganização da família e, consequentemente, da vida das mulheres.

Foi a partir da referida revolução que algumas transformações ocorreram no mundo e culminaram nas Duas Grandes Guerras Mundiais. Os domínios públicos e privados foram novamente atingidos em consequência desses eventos. O mundo não mais seria o mesmo e a instituição familiar, um dos pilares da sociedade, também foi afetada.

Essa realidade foi vivenciada principalmente nos países mais envolvidos com as duas grandes guerras. As mulheres foram convocadas a atuar mais diretamente na vida pública, trabalhando em fábricas, muitas vezes em substituição aos maridos que haviam sido enviados para a guerra e que por vezes não retornaram, ou regressaram apresentando sequelas, ficando impossibilitados, dessa maneira, de retomar a vida profissional.

Outro acontecimento relevante, fonte de transformações mundiais, foi a Revolução Sexual. Tal fenômeno, ocorrido no mundo ocidental nas décadas de 60 e 70, ocasionou mudanças significativas na vida das mulheres, a exemplo de um maior controle da natalidade. Assim, temas do universo feminino deixaram de permear a esfera privada e passaram a ser discutidos e questionados na esfera pública.
 
As mulheres têm buscado seu reconhecimento no âmbito profissional com o passar do tempo e a presença feminina em atividades laborais foi se aprimorando. Se antes as mulheres estavam fortemente segregadas às ocupações identificadas como trabalho doméstico, tal realidade modificou-se com o processo de industrialização e a necessidade de força trabalhista devido ao crescimento industrial.

A autora Maria Lúcia Rocha-Coutinho (2003), em estudo realizado com 12 mulheres cariocas e executivas, com idades entre 25 e 45 anos, formadas em administração de empresas, economia e diferentes cursos de engenharia, aponta para a realidade das mães que trabalham fora, quando confirma a necessidade que tais mulheres possuem em conciliar a vida profissional e suas intensas demandas com as não menos importantes demandas da vida familiar, incluindo atenção ao marido, cuidados com a casa, sua manutenção e organização bem como o cuidado com os filhos e educação dos mesmos, apontando para a necessidade de mais estudos que abordem essa temática.

Dados do IBGE (2012), partindo do Censo realizado em 2010, apontam para uma crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho entre os anos 2000 e 2010, passando de 35,4%, em 2000, para 43,9%, em 2010, revelando-se um crescimento mais acentuado que o dos homens (61,1%, em 2000, para 63,3%. em 2010). Também publicam maior inclusão feminina nos cursos universitários, revelando o percentual de pessoas com pelo menos o nível superior de graduação completo de 9,9% para o contingente masculino e 12,5% para o público feminino.

Por fim, a pesquisadora Irma Arriagada (2009) confirma tais mudanças em estudo realizado sobre as “Diversidades e Desigualdades das Famílias Latino-Americanas” e aponta para a transformação da família e da mulher nos últimos anos. Tais mudanças contemplam o aumento da quantidade de famílias monoparentais sendo chefiadas em sua maioria por mulheres; o crescente número de famílias recompostas, vindas de recasamentos; a mudança de um modelo social que tinha o homem como principal provedor para um modelo social mais diversificado, que inclui maior participação feminina. Revela ainda o aumento de lares individuais, evidenciando uma maior individuação dos sujeitos envolvidos em sociedade.

A autora contempla a realidade das mulheres na atualidade, ressaltando um movimento de maior responsabilidade profissional, ao mesmo tempo em que assumem o comando de suas casas e apresentam um maior distanciamento entre o nascimento do primeiro filho e o segundo, fenômeno que também está intimamente ligado aos recasamentos e à participação mais ativa das mulheres no mercado de trabalho.

Os dados apresentados neste texto, fazem parte da minha dissertação de mestrado defendida no ano de 2014, na Universidade Católica do Salvador, intitulada: “Família, Cuidado e Educação de Filhos: Concepções e Práticas de Mães Inseridas e Não Inseridas no Mercado de Trabalho- Estudos de Casos Múltiplos”, com o objetivo de conhecer as concepções e práticas de mães inseridas e não inseridas no mercado de trabalho sobre família, cuidado e educação de filhos, motivada por um sentimento de ambiguidade presente não só em mim, mas reconhecido em cada mulher entrevistada, motivadas pelo projeto de crescimento profissional sem, contudo, abandonar o tão relevante ofício da maternidade.

Ressalto que os dados aqui apresentados não se esgotam nesse compacto artigo. Foram apresentadas transformações na vida profissional e social das mulheres, mas elas certamente abarcam outras áreas.

Diante do que foi exposto, percebe-se que o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de Março, representa, para todas as mulheres, o reconhecimento de uma trajetória de luta por igualdade de direitos que não se esgotou em seus marcos teóricos. Ao contrário, é uma construção constante, cabendo às mulheres, maior esclarecimento e ação, para que as futuras gerações desfrutem das condições de igualdade por nós almejadas.



[1] Clarissa Fontoura é Psicóloga, Mestra em família na Sociedade Contemporânea pela UCSal – Universidade Católica do Salvador (2014), Pós-graduada em Psicopatologia Clínica pela INCURSOS/ UCB- Universidade Castelo Branco (2011). É membro do Grupo de Pesquisa Família em Mudança/ Família em Desenvolvimento, vinculados à UCSal. Professora da disciplina Psicologia Forense na Faculdade Apoio UNIFASS (Lauro de Freitas-BA) no curso de Direito, além de  Professora das Faculdades Maurício de Nassau (Salvador-BA) e Castro Alves.

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