DIA INTERNACIONAL DA MULHER:
Uma
homenagem ao dia 8 de março e a todos os outros dias
Por:
Clarissa Fontoura[1]
Apesar do caráter festivo adquirido na
atualidade, o Dia Internacional da Mulher tem em sua origem manifestações de operárias
de uma fábrica têxtil nova-iorquina em busca de condições trabalhistas mais
igualitárias entre homens e mulheres. Infelizmente, na atualidade, poucos conhecem
a verdadeira origem dessa data e a sua relevância, em se tratando da luta das
mulheres por igualdade de direitos, numa sociedade ainda marcada pelo machismo
e conservadorismo.
Dentro dessa perspectiva, destaco
outro acontecimento importante, gerador de mudanças profundas na sociedade: a
Revolução Industrial, ponto de transformação em todas as esferas sociais,
incluindo o trabalho e a família. A dinâmica trabalhista que ocorria de maneira
artesanal deu lugar a outro tipo de dinâmica mais exigente e comercial,
demandando um maior número de pessoas no mercado de trabalho e nas indústrias
e, consequentemente, desenvolvendo novas relações de trabalho. Tais mudanças no
âmbito da vida pública afetaram diretamente a vida privada, ocasionando uma
reorganização da família e, consequentemente, da vida das mulheres.
Foi a partir da referida revolução que
algumas transformações ocorreram no mundo e culminaram nas Duas Grandes Guerras
Mundiais. Os domínios públicos e privados foram novamente atingidos em
consequência desses eventos. O mundo não mais seria o mesmo e a instituição familiar,
um dos pilares da sociedade, também foi afetada.
Essa realidade foi vivenciada
principalmente nos países mais envolvidos com as duas grandes guerras. As
mulheres foram convocadas a atuar mais diretamente na vida pública, trabalhando
em fábricas, muitas vezes em substituição aos maridos que haviam sido enviados
para a guerra e que por vezes não retornaram, ou regressaram apresentando
sequelas, ficando impossibilitados, dessa maneira, de retomar a vida
profissional.
Outro acontecimento relevante, fonte de
transformações mundiais, foi a Revolução Sexual. Tal fenômeno, ocorrido no
mundo ocidental nas décadas de 60 e 70, ocasionou mudanças significativas na
vida das mulheres, a exemplo de um maior controle da natalidade. Assim, temas
do universo feminino deixaram de permear a esfera privada e passaram a ser
discutidos e questionados na esfera pública.
As mulheres têm buscado seu
reconhecimento no âmbito profissional com o passar do tempo e a presença
feminina em atividades laborais foi se aprimorando. Se antes as mulheres
estavam fortemente segregadas às ocupações identificadas como trabalho
doméstico, tal realidade modificou-se com o processo de industrialização e a
necessidade de força trabalhista devido ao crescimento industrial.
A autora Maria Lúcia Rocha-Coutinho
(2003), em estudo realizado com 12 mulheres cariocas e executivas, com idades
entre 25 e 45 anos, formadas em administração de empresas, economia e
diferentes cursos de engenharia, aponta para a realidade das mães que trabalham
fora, quando confirma a necessidade que tais mulheres possuem em conciliar a
vida profissional e suas intensas demandas com as não menos importantes
demandas da vida familiar, incluindo atenção ao marido, cuidados com a casa,
sua manutenção e organização bem como o cuidado com os filhos e educação dos
mesmos, apontando para a necessidade de mais estudos que abordem essa temática.
Dados do IBGE (2012), partindo do Censo
realizado em 2010, apontam para uma crescente inserção das mulheres no mercado
de trabalho entre os anos 2000 e 2010, passando de 35,4%, em 2000, para 43,9%,
em 2010, revelando-se um crescimento mais acentuado que o dos homens (61,1%, em
2000, para 63,3%. em 2010). Também publicam maior inclusão feminina nos cursos
universitários, revelando o percentual de pessoas com pelo menos o nível
superior de graduação completo de 9,9% para o contingente masculino e 12,5%
para o público feminino.
Por fim, a pesquisadora Irma Arriagada
(2009) confirma tais mudanças em estudo realizado sobre as “Diversidades e
Desigualdades das Famílias Latino-Americanas” e aponta para a transformação da
família e da mulher nos últimos anos. Tais mudanças contemplam o aumento da
quantidade de famílias monoparentais sendo chefiadas em sua maioria por
mulheres; o crescente número de famílias recompostas, vindas de recasamentos; a
mudança de um modelo social que tinha o homem como principal provedor para um
modelo social mais diversificado, que inclui maior participação feminina. Revela ainda
o aumento de lares individuais, evidenciando uma maior individuação dos
sujeitos envolvidos em sociedade.
A autora contempla a realidade das
mulheres na atualidade, ressaltando um movimento de maior responsabilidade
profissional, ao mesmo tempo em que assumem o comando de suas casas e
apresentam um maior distanciamento entre o nascimento do primeiro filho e o
segundo, fenômeno que também está intimamente ligado aos recasamentos e à
participação mais ativa das mulheres no mercado de trabalho.
Os dados apresentados neste texto,
fazem parte da minha dissertação de mestrado defendida no ano de 2014, na
Universidade Católica do Salvador, intitulada: “Família, Cuidado e Educação de
Filhos: Concepções e Práticas de Mães Inseridas e Não Inseridas no Mercado de
Trabalho- Estudos de Casos Múltiplos”, com o objetivo de conhecer as concepções
e práticas de mães inseridas e não inseridas no mercado de trabalho sobre
família, cuidado e educação de filhos, motivada por um sentimento de
ambiguidade presente não só em mim, mas reconhecido em cada mulher
entrevistada, motivadas pelo projeto de crescimento profissional sem, contudo,
abandonar o tão relevante ofício da maternidade.
Ressalto que os dados aqui apresentados
não se esgotam nesse compacto artigo. Foram apresentadas transformações na vida
profissional e social das mulheres, mas elas certamente abarcam outras áreas.
Diante do que foi exposto, percebe-se que
o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de Março, representa, para todas
as mulheres, o reconhecimento de uma trajetória de luta por igualdade de
direitos que não se esgotou em seus marcos teóricos. Ao contrário, é uma
construção constante, cabendo às mulheres, maior esclarecimento e ação, para
que as futuras gerações desfrutem das condições de igualdade por nós almejadas.
[1] Clarissa Fontoura é Psicóloga, Mestra em família na Sociedade
Contemporânea pela UCSal – Universidade Católica do Salvador (2014),
Pós-graduada em Psicopatologia Clínica pela INCURSOS/ UCB- Universidade Castelo
Branco (2011). É membro do Grupo de Pesquisa Família em Mudança/ Família em
Desenvolvimento, vinculados à UCSal. Professora da disciplina Psicologia
Forense na Faculdade Apoio UNIFASS (Lauro de Freitas-BA) no curso de Direito,
além de Professora das Faculdades
Maurício de Nassau (Salvador-BA) e Castro Alves.
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