AOS
MEUS AMIGOS SIMBIÓTICOS[1]
Prof. Milton
Vasconcellos[2]
Zaiane, Theodora,
Noelson, Fernanda e Camila.
Discursos convém que
sejam poucos, se possível que sejam bons e em qualquer caso que sejam breves.
Afinal ninguém merece mais uma aula no dia da colação de grau não é verdade?
Com estas palavras do
Prof. José Carlos Barbosa Moreira, inicio esta minha mensagem dirigida à turma
de Direito de 2013.2 aqui representada na pessoa destes cinco grandes amigos.
Como hábito, nessas
ocasiões costuma-se dar conselhos, parabenizar a família dos formandos,
enaltecer a virtude e ética na conduta profissional que se abre doravante,
costuma-se ainda relembrar momentos bons e outros não tanto nessa caminhada de
esforço e glórias que, sem dúvidas, representa uma graduação em nível superior
em um país marcado por tantas desigualdades e tantas injustiças. Tudo isso é
importante e deixo aqui desde já meus cumprimentos às respectivas famílias e
amigos dos Formandos. Mas gostaria de fazer diferente dessa vez, afinal a
“diferença” é algo que incorporei desde
o dia que me tornei deficiente físico e fiz disso um trampolim para minhas
conquistas, razão pelo qual centralizo meu breve discurso em duas palavras:,”alunos” e “superação”.
ALUNOS
Etimologicamente,
convém fazer aqui uma correção histórica: a de que a palavra Aluno teria
significado pejorativo relacionado a "não luz", ou "sem luz", creio que tal
compreensão deu-se pela junção do prefixo “a” (que significa negação na língua
portuguesa) e pelo elemento luno, que deriva de uma adulteração de lumen, luminis,
que em latim significa “luz".
Em
verdade meus amigos, a palavra “ALUNO” segundo renomados gramáticos deriva da
palavra latina alumnus, que significa, dentre outras: criança de peito (isto é,
que mama na mãe), lactente, menino; e, para este contexto escolar significa discípulo.
Já a palavra estudante,
em nossos dicionários significa “aquele que
estuda”, ou “aquele que frequenta estabelecimento de ensino”
Qual
das duas seria mais adequada para definir vocês, Zaiane,
Theodora, Noelson, Fernanda e Camila?
Por
favor, permitam-me explicar.
Tradicionalmente era
costume definir a relação que se desenvolve entre professor e aluno como uma
típica relação de ensino. Ou seja,
aquela onde, de forma unilateral o professor coloca-se na posição de destaque e,
do alto de seu púlpito faz sua exposição para que os alunos ouçam passivamente
e absorvam todo o conteúdo exposto, algo muito próximo ao que Paulo Freire
chamou de educação bancária.
Nunca fiz isso e tenho
estes cinco aqui como testemunhas, (ou no mínimo como informantes se aqui for arguída
a suspeição destes)
Por outro lado, explica-se
que a relação de aprendizagem é bilateral, onde o professor vê-se como
integrante da turma, desenvolvendo no máximo uma posição de orientador, mas
nunca de detentor da verdade. Por tal razão, destas relações bilaterais, não
raro, o professor torna-se aluno e este torna-se professor, pois aprende-se
constantemente dessa relação de troca.
Trata-se de legítima
relação que, na Biologia, chama-se de simbiose.
Por este motivo não
posso chamar-lhes de alunos, pois muitas vezes fui eu o discípulo. Por outro
lado, de igual forma e pelas mesmas razões não posso contentar-me com a
definição de estudantes, pois em muitos momentos, vocês não se limitaram a
estudar ou simplesmente frequentar a Instituição de Ensino, vocês lecionaram,
cada um com suas respectivas histórias de vida, cuja pré-compreensão ficava
latente em cada manifestação de aula, seja oral, seja escrita.
Proponho então
chamar-lhes de seres simbióticos (no
sentido de decorrentes da relação simbiótica que deriva da relação de
aprendizagem).
Talvez agora, vocês
entendam o porquê nossas turmas sempre tiveram uma arrumação de cadeiras em forma
de círculo. Pois sempre me interessou muito ouvir vocês, aprender com vocês. No
fundo o discípulo sempre fui eu...
E agora, que vocês saem
da Academia, espero que nunca percam este salutar hábito de “ouvir” mais do que
falar, mas não interpretem nisso uma postura passiva, refiro-me a postura
humilde que reconhece sua ignorância e coloca-se sempre a ouvir o próximo com o
intuito de aprender com ele, afinal como dizia minha vó não é a toa que Deus nos fez com apenas uma boca e duas
orelhas.
O que
sabemos é uma gota d’água. O que ignoramos é um oceano. Portanto urge que
ouçamos mais.
Dito isso, devo
confessar que pouco ensinei a vocês. Ao contrário, aprendi muito. Talvez também
por isso, eu sempre disse em sala que não tenho alunos, tenho amigos.
Ora, quando me referi à palavra amigo no sentido
aqui colocado nessa frase, quis justamente me referir a esta relação de
parceria, de simbiose que toda amizade sincera denota.
Se a ciência se
desenvolve por métodos, obrigado por me ensinarem um novo conhecimento, o da simbiose.
Por tudo isso, reitero:
muito obrigado.
Obrigado às suas
famílias, por nos auxiliar nesses anos todos, consolidando o sustentáculo
indispensável de amor e confiança direcionado aos alunos. Saibam que vocês também
integram esta relação de simbiose.
Obrigado pelas noites
que me aturaram ouvindo falar de tributos, fato gerador, alíquotas e toda
aquela conversa sobre tributação. Hoje, o único tributo devido é no sentido de
homenagem que fazemos a vocês.
Dito tais palavras
sobre a primeira ideia resta-me agora falar sobre “superação”, cumprindo assim
o iter que tracei no início desta
fala.
SUPERAÇÃO
Segundo os dicionários,
superação deriva da palavra latina superatione
que expressa o sentido de ato ou efeito de se superar.
Quanto a isso, qual de
nós não deu sua cota de superação para que este momento fosse possível?
Superação no sentido de
esforço, luta, garra... vi isso nos
olhos de todos vocês, todas as noites.
Poderia falar de mim...
Citar meu exemplo de vida, afinal foi este o nome que vocês escolheram para a
turma, o de meu pai: Milton Vasconcellos.
Mas minha história é
muito pouco, para definir o esforço de vocês.
Poderia falar das
trágicas notícias que nos assaltaram, como a morte de parentes queridos, que
nos abalaram, mas persistimos.
Poderia falar
ainda das dificuldades materiais, das distâncias entre o ir e vir da casa à
faculdade, do dinheiro (na verdade a falta dele), do cansaço e da cobrança de
todos, mas persistimos.
Poderia falar da rotina
de todas as noites (as vezes dias) de luta, esforço, estudo, muitas vezes com
cinco provas por semana pois não vivemos este novo formato atual de provas
intercaladas em dia sim, dia não... mas persistimos.
Agora um novo universo
se abre, que vocês consigam persistir na caminhada com a mesma coragem, luta,
esforço. Que nunca tenham medo de ousar sonhar, pois sonhos só são legítimos
àqueles que ousam.
Por fim, deixo-lhes a
visão de superação na ironia de um professor que mal consegue andar mas que estimula a todos a voar, afinal como diz o
navegador:
Voem alto, mergulhem fundo, encontrem o próprio caminho. Não
tenham medo de tentar, de recomeçar, de insistir. O maior naufrágio é não partir.
Aos meus queridos amigos simbióticos,
Zaiane, Theodora, Noelson, Fernanda e Camila,ora discípulos, ora Mestres:
MUITO OBRIGADO.
[1] Discurso do Prof. Milton
Vasconcellos, na condição de PATRONO das Turma de Direito do período de 2013.2,
cuja Colação de Grau foi realizada no dia 30 de Abril de 2014.
[2] Milton Vasconcellos é Advogado,
Especialista em Direito Público (FABAC), Professor de Direito Tributário e de Hermenêutica da Faculdade Apoio Unifass.
Que belas palavras!
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