segunda-feira, 5 de maio de 2014

DISCURSO DO PATRONO

AOS MEUS AMIGOS SIMBIÓTICOS[1]
Prof. Milton Vasconcellos[2]

Zaiane, Theodora, Noelson, Fernanda e Camila.

Discursos convém que sejam poucos, se possível que sejam bons e em qualquer caso que sejam breves. Afinal ninguém merece mais uma aula no dia da colação de grau não é verdade?

Com estas palavras do Prof. José Carlos Barbosa Moreira, inicio esta minha mensagem dirigida à turma de Direito de 2013.2 aqui representada na pessoa destes cinco grandes amigos.

Como hábito, nessas ocasiões costuma-se dar conselhos, parabenizar a família dos formandos, enaltecer a virtude e ética na conduta profissional que se abre doravante, costuma-se ainda relembrar momentos bons e outros não tanto nessa caminhada de esforço e glórias que, sem dúvidas, representa uma graduação em nível superior em um país marcado por tantas desigualdades e tantas injustiças. Tudo isso é importante e deixo aqui desde já meus cumprimentos às respectivas famílias e amigos dos Formandos. Mas gostaria de fazer diferente dessa vez, afinal a “diferença” é  algo que incorporei desde o dia que me tornei deficiente físico e fiz disso um trampolim para minhas conquistas, razão pelo qual centralizo meu breve discurso em  duas palavras:,”alunos”  e “superação”. 

ALUNOS

Etimologicamente, convém fazer aqui uma correção histórica: a de que a palavra Aluno teria significado pejorativo relacionado a "não luz", ou "sem luz", creio que tal compreensão deu-se pela junção do prefixo “a” (que significa negação na língua portuguesa) e pelo elemento luno, que deriva de uma adulteração de lumen, luminis, que em latim significa “luz".

Em verdade meus amigos, a palavra “ALUNO” segundo renomados gramáticos deriva da palavra latina alumnus, que significa, dentre outras: criança de peito (isto é, que mama na mãe), lactente, menino; e, para este contexto escolar significa discípulo.

Já a palavra estudante, em nossos dicionários significa “aquele que estuda”, ou “aquele que frequenta estabelecimento de ensino”

Qual das duas seria mais adequada para definir vocês, Zaiane, Theodora, Noelson, Fernanda e Camila?

Sinceramente, em minha opinião nenhuma delas.

Por favor, permitam-me explicar.

Tradicionalmente era costume definir a relação que se desenvolve entre professor e aluno como uma típica relação de ensino.  Ou seja, aquela onde, de forma unilateral o professor coloca-se na posição de destaque e, do alto de seu púlpito faz sua exposição para que os alunos ouçam passivamente e absorvam todo o conteúdo exposto, algo muito próximo ao que Paulo Freire chamou de educação bancária.

Nunca fiz isso e tenho estes cinco aqui como testemunhas, (ou no mínimo como informantes se aqui for arguída a suspeição destes)

Por outro lado, explica-se que a relação de aprendizagem é bilateral, onde o professor vê-se como integrante da turma, desenvolvendo no máximo uma posição de orientador, mas nunca de detentor da verdade. Por tal razão, destas relações bilaterais, não raro, o professor torna-se aluno e este torna-se professor, pois aprende-se constantemente dessa relação de troca.

Trata-se de legítima relação que, na Biologia, chama-se de simbiose.

Por este motivo não posso chamar-lhes de alunos, pois muitas vezes fui eu o discípulo. Por outro lado, de igual forma e pelas mesmas razões não posso contentar-me com a definição de estudantes, pois em muitos momentos, vocês não se limitaram a estudar ou simplesmente frequentar a Instituição de Ensino, vocês lecionaram, cada um com suas respectivas histórias de vida, cuja pré-compreensão ficava latente em cada manifestação de aula, seja oral, seja escrita.

Proponho então chamar-lhes de  seres simbióticos (no sentido de decorrentes da relação simbiótica que deriva da relação de aprendizagem).

Talvez agora, vocês entendam o porquê nossas turmas sempre tiveram uma arrumação de cadeiras em forma de círculo. Pois sempre me interessou muito ouvir vocês, aprender com vocês. No fundo o discípulo sempre fui eu...

E agora, que vocês saem da Academia, espero que nunca percam este salutar hábito de “ouvir” mais do que falar, mas não interpretem nisso uma postura passiva, refiro-me a postura humilde que reconhece sua ignorância e coloca-se sempre a ouvir o próximo com o intuito de aprender com ele, afinal como dizia minha vó não é a toa que  Deus nos fez com apenas uma boca e duas orelhas.

O que sabemos é uma gota d’água. O que ignoramos é um oceano. Portanto urge que ouçamos mais.

Dito isso, devo confessar que pouco ensinei a vocês. Ao contrário, aprendi muito. Talvez também por isso, eu sempre disse em sala que não tenho alunos, tenho amigos.

Ora,  quando me referi à palavra amigo no sentido aqui colocado nessa frase, quis justamente me referir a esta relação de parceria, de simbiose que toda amizade sincera denota.

Se a ciência se desenvolve por métodos, obrigado por me ensinarem  um novo conhecimento, o da simbiose.

Por tudo isso, reitero: muito obrigado.

Obrigado às suas famílias, por nos auxiliar nesses anos todos, consolidando o sustentáculo indispensável de amor e confiança direcionado aos alunos. Saibam que vocês também integram esta relação de simbiose.

Obrigado pelas noites que me aturaram ouvindo falar de tributos, fato gerador, alíquotas e toda aquela conversa sobre tributação. Hoje, o único tributo devido é no sentido de homenagem que fazemos a vocês.

Dito tais palavras sobre a primeira ideia resta-me agora falar sobre “superação”, cumprindo assim o iter que tracei no início desta fala.

SUPERAÇÃO

Segundo os dicionários, superação deriva da palavra latina superatione que expressa o sentido de ato ou efeito de se superar.

Quanto a isso, qual de nós não deu sua cota de superação para que este momento fosse possível?

Superação no sentido de esforço, luta, garra...  vi isso nos olhos de todos vocês, todas as noites.

Poderia falar de mim... Citar meu exemplo de vida, afinal foi este o nome que vocês escolheram para a turma, o de meu pai: Milton Vasconcellos.

Mas minha história é muito pouco, para definir o esforço de vocês.

Poderia falar das trágicas notícias que nos assaltaram, como a morte de parentes queridos, que nos abalaram, mas persistimos.

Poderia falar ainda  das dificuldades materiais,  das distâncias entre o ir e vir da casa à faculdade, do dinheiro (na verdade a falta dele), do cansaço e da cobrança de todos, mas persistimos.

Poderia falar da rotina de todas as noites (as vezes dias) de luta, esforço, estudo, muitas vezes com cinco provas por semana pois não vivemos este novo formato atual de provas intercaladas em dia sim, dia não... mas persistimos.

Agora um novo universo se abre, que vocês consigam persistir na caminhada com a mesma coragem, luta, esforço. Que nunca tenham medo de ousar sonhar, pois sonhos só são legítimos àqueles que ousam.

Por fim, deixo-lhes a visão de superação na  ironia  de um professor  que mal consegue andar mas que estimula a todos a voar, afinal como diz o navegador:

Voem alto, mergulhem fundo, encontrem o próprio caminho. Não tenham medo de tentar, de recomeçar, de insistir. O maior naufrágio é não partir.

Aos meus queridos amigos simbióticos, Zaiane, Theodora, Noelson, Fernanda e Camila,ora discípulos, ora Mestres:

MUITO OBRIGADO.




[1] Discurso do Prof. Milton Vasconcellos, na condição de PATRONO das Turma de Direito do período de 2013.2, cuja Colação de Grau foi realizada no dia 30 de Abril de 2014.
[2] Milton Vasconcellos é Advogado, Especialista em Direito Público (FABAC), Professor de Direito Tributário e de Hermenêutica da Faculdade Apoio Unifass.

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